Bash
- Frank Abreu
- 18 de abr. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 26 de mai. de 2024
O primeiro trabalho de Neil LaBute a ganhar versão brasileira foi Bash: Latter-Day Plays (traduzida simplesmente por Baque), em 2005, com direção de Monique Gardenberg. Quase duas décadas depois, Bash volta a ser montada em São Paulo, numa produção independente dirigida por Fernando Vilela.
Neil LaBute tem uma capacidade produtiva invejável, escrevendo dezenas de peças (sem falar nos filmes) com uma estrutura dramatúrgica rigorosa, milimetricamente calculada para nos conduzir a um determinado ponto no qual o chão se abrirá de repente, nos deixando desorientados.
Bash: Latter-Day Plays é um conjunto de três cenas, escritas em 1999. O subtítulo fazia referência à Church of Jesus Christ of Latter-day Saints (Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, popularmente conhecida como Igreja Mórmon), da qual o autor fazia parte.
Afastado da igreja há muitos anos, LaBute rebatizou sua obra para Bash: Three Plays. E agora os personagens no palco são frequentadores de uma igreja sem denominação e se encaixam perfeitamente na categoria genérica de… cidadãos de bem.
A primeira cena, "Ifigênia em Orem", dialoga com a tragédia grega Ifigênia em Áulis, mas com personagens de uma cidade do Utah. No palco, um jovem homem de bem (Filipe Augusto) revela ter cometido um ato abominável para garantir sua permanência na empresa em que trabalha.
Na segunda parte, intitulada "Um Bando de Santos", John e Sue (Fernando Vilela e Júlia Caterina), estudantes do Boston College, viajam para uma festa em Manhattan (encontro de jovens da igreja). A violência explode na madrugada novaiorquina quando John vê dois homens se beijando no Central Park. E aqui o título da obra se revela: Bash significa tanto "festa" quanto "bater com violência".
Na última cena, "Medeia Redux" (ou Medeia Atualizada), entramos numa delegacia para ouvir o depoimento de uma presa (interpretada com vagar, tensão e atenção por Malú Lomando). A história dela começa com o abuso sexual sofrido aos treze anos de idade, praticado por um de seus professores, um admirável homem de bem.
A encenação de Fernando Vilela é livre de adereços. Sob os holofotes, apenas o que importa: o texto poderoso de Neil LaBute e os atores.
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Bash foi assistida em 14 de abril de 2024 no Espaço Elevador.
Crédito da foto: Sara Ferreira