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Mãe e Filho

  • Frank Abreu
  • 27 de jul. de 2024
  • 2 min de leitura

Atualizado: 24 de ago. de 2024




Num vilarejo da costa oeste norueguesa, entre montanhas e fiordes, uma jovem de família rigorosamente católica se torna Mãe. Os poucos meses ao lado do pai da criança deixam claro que a convivência seria impossível. Separam-se. O homem segue sua vida, casa-se novamente, tem outros filhos. A jovem Mãe busca obsessivamente completar sua formação fora do vilarejo. O Filho cresce sob os cuidados da avó religiosa e tem uma infância marcada pela ausência materna.


A peça Mãe e Filho, de Jon Fosse, tem início quando o Filho (Tiago Martelli), já adulto, resolve fazer uma visita à Mãe (Vera Zimmerman). Muitos anos haviam se passado desde o último encontro. Eles parecem estranhos um ao outro. A Mãe está feliz, faz muitas perguntas sobre a vida do Filho. Ele se mostra apático, responde com monossílabos. O real motivo da visita se desenha aos poucos: o Filho veio confrontar a Mãe sobre uma decisão dela, tomada no passado (mas que ele só descobriu recentemente), que poderia ter afetado de forma drástica a vida de ambos.


Como em qualquer peça de teatro, o enredo é apresentado aos poucos, à medida que o diálogo se desenvolve. No entanto, os personagens de Jon Fosse não conversam em linha reta, mas em espiral: as falas se repetem com fragmentos novos de informação a cada volta. E são muitas as repetições, elipses e interrupções. Frases que não se completam vão se acumulando ao longo da peça, deixando um rastro de silêncios repleto de sentidos.


Em 2023, Jon Fosse recebeu o Nobel de Literatura "por suas peças e prosa inovadoras que dão voz ao indizível". Mas o inefável se expressa em sua obra de forma contraditória, fraturada e por vezes sem lógica. É comum os personagens afirmarem algo e negarem já na frase seguinte. A Mãe se diz feminista, mas seu discurso é permeado por afirmações misóginas. O Filho, nascido no mesmo vilarejo que a Mãe, pôde estudar literatura na Irlanda e filosofia na Alemanha, mas não enxerga que ela jamais teria as mesmas oportunidades pelo simples fato de ser mulher.


Lavínia Pannunzio e Carlos Gradim deram à Mãe e Filho uma direção sem firulas. A montagem é curta e busca ir direto ao ponto, mesmo que ao final da frase o ponto não esteja lá.

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Mãe e Filho foi assistida em 21 de julho de 2024 no Sesc Ipiranga.

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